GARCIA MONTEIRO
( Portugal )
Manuel Garcia Monteiro (Horta, 29 de Junho de 1859 — Boston, 7 de Fevereiro de 1913) foi um médico, poeta e publicista açoriano. Usou o pseudónimo Álvaro Newton.
Garcia Monteiro fez os seu estudos primários e secundário a cidade da Horta, onde frequentou o Liceu Nacional da Horta. Apesar de se ter revelado um aluno brilhante, não lhe foi possível aceder ao ensino superior devido a dificuldades financeiras. Naturalmente apto para as letras,[6] experimentou o jornalismo, aparecendo em 1874, quando teria 15 anos, como redactor do semanário satírico O Passatempo.
Não podendo continuar estudos, conseguiu um emprego como funcionário público na Horta. Contudo, a vontade de continuar estudos levou a que em 1882, com 23 anos de idade, tendo conseguido um lugar de prefeito num colégio de Lisboa, partisse para aquela cidade e se matriculasse na Escola Politécnica.
Em Lisboa ingressou nos meios intelectuais, tendo entre conhecido, entre outros, o escritor Fialho de Almeida que a seu respeito terá escrito: «um açoriano dos mais vivos e um dos mais delicados espíritos que temos conhecido».
Contudo, a permanência em Lisboa foi curta, pois no ano seguinte, em 1883, já estava de volta à Horta. Nesse ano montou uma tipografia com impressora rotativa, o primeiro prelo rotativo que houve na Horta. Nesse prelo foi impresso o periódico O Açoriano (1883-1896).
Esta passagem pela ilha do Faial foi curta, pois no ano seguinte, em junho de 1884, partiu para a Nova Inglaterra, onde se fixou em Boston. Inicialmente tinha como objectivo redigir um periódico em língua portuguesa, intitulado o Luso-Americano, mas o projecto depressa se gorou. Empregou-se então como tipógrafo no Boston Herald, o que lhe permitia trabalhar durante a noite ao mesmo tempo que estudava. Tendo frequentado o Baltimore Medical College, em Baltimore, Maryland, formou-se em Medicina no ano de 1895.
Passou então a exercer medicina em East Boston e em Cambridge (Massachusetts), onde já então existia uma numerosa comunidade de origem açoriana. Partidário do republicanismo e tendo aderido à maçonaria, manteve o seu interesse pela imprensa, promovendo intensa propaganda dos ideais republicanos entre a comunidade açoriana. Com outro açoriano, João Francisco Escobar, criou uma organização maçónica de que foi venerável.[1] Faleceu em Boston a 7 de fevereiro de 1913, aos 53 anos de idade.
A obra de Garcia Monteiro é vasta, estando na sua maioria dispersa pelos periódicos de que foi colaborador. Para além da colaboração do período de juventude nos jornais da Horta, em Massachusetts colaborou no jornal Açores-América, editado em Cambridge por Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro. A partir de 1886 também se afirmou como cronista, com destaque par a série que intitulou «Cartas da América» que foi publicada na Gazeta de Notícias da cidade do Rio de Janeiro.[10][11]
No campo da poesia, género em que mais se destacou, as suas primeiras publicações conhecidas apareceram em 1874, quando teria 15 anos, no jornal O Faialense. A sua poesia seria composta por «quadros realistas de costumes e ideias do meio e da época».[7] Pedro da Silveira considera Garcia Monteiro como um poeta lírico, mas bem melhor quando satírico ou humorista, e um dos mais destacados parnasianos de língua portuguesa e incontestavelmente o primeiro na literatura açoriana.[12]
Para além da poesia e das crónicas jornalísticas, também foi contista e comediógrafo (deixou inéditas duas comédias). Para além de vasta colaboração em periódicos, é autor das seguintes monografias:
- (1882) O Marquês de Pombal. Lisboa, edição do autor (editado com o pseudónimo Álvaro Newton)
- (1884) Versos. Horta, Tip. Gutemberg.
- (1896) Rimas de Ironia Alegre, Boston, edição do autor.
- (1989) A trança, Horta, Centro de Estudos e Cultura da Câmara Municipal da Horta (edição póstuma)
- Sem cerimónia (peça representada no Teatro Faialense a 29 de Abril de 1880 e 5 de Maio de 1881, deixada inédita)
- Um presente de anos (deixado inédito).
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Biografia: https://pt.wikipedia.org/wiki
LIVRO DOS POEMAS. LIVRO DOS SONETOS. LIVRO DO CORPO. LIVRO DOS DESAFOROS. LIVRO DAS CORTESÃES. LIVRO DOS BICHOS.. Org. Sergio Faraco. Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p ISBN 978-85-254-1839-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
CAIR DO ALTO
E ficou com as mãos pousadas no teclado,
esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
supunha-se num baile; um conde apaixonado
segredava-lhe: "Adoro-a... Eu mato-me, marquesa"..."
Ah! se fosse fidalga!... Ao menos baronesa...
Que baile! que esplendor na noite do noivado!...
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
e o piano soltou um grito arrepiado.
Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
à mesma ideia — o luxo. Ia comprar cautelas...
E imaginou de novo o conde enfurecido...
Um palácio, um coupé*, esplêndidos cavalos...
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
e mirou com ternura: — "Anda a aparar-me os calos".
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Página publicada em agosto de 2022
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